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BRUNO MIGUEL

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 HOME SWEET HOME
Texto: Letícia Cardoso
07|03|24 - 06|04|24

ONDE HABITA A MAGIA

por Leticia Cardoso

“Para conseguir ser um artista, é necessário dominar, controlar e transformar a experiência em memória,

a memória em expressão, a matéria em forma.”

Ernst Fischer

Todo esse processo é dominado por Bruno Miguel. Na sua primeira exposição na Galeria Movimento Bruno traz sua Casa para a Galeria. Home Sweet Home é um recorte do universo doméstico do artista.

Colecionador de objetos e memórias, Bruno vai trazendo essas coleções, poeticamente, para sua obra. Das Tapeçarias europeias temos intervenções em tinta, reescrevendo a história do nosso Brasil, nossa Casa. Dos objetos de vidro da Cristaleira que permeiam o dia a dia do nosso uso, às peças de porcelana da série Essas pessoas na sala de jantar, tudo habita dentro da Casa, até O Vazio que nos consome, série que o artista se utiliza de embalagens plásticas vazias dos produtos consumidos em casa. Aqui o artista traz a reflexão sobre os limites da pintura. Bruno sempre carrega a memória em sua linguagem. E nessa exposição não seria diferente. A relação do artista com o compromisso de contar uma história a partir do pensamento pictórico vai nos revelando a nossa história.

Bruno mergulha fundo na pesquisa, se utiliza do cotidiano banal e o transforma em Arte. Do seu atelier, extensão da sua casa, ou melhor sua Casa, ele transforma suas inquietações. Ele cria em seu trabalho uma ideia de “supra natureza”, ele consegue através da sua obra dar origem a um novo tipo de realidade, uma realidade que é ao mesmo tempo sensorial e supra sensorial.

Quando o homem descobriu que os objetos encontrados na natureza poderiam ser transformados em instrumentos, que poderia agir e alterar o mundo externo, ele descobriu também que a ideia do impossível poderia ser quebrada através de instrumentos mágicos. A magia criadora de tudo em algum momento perdeu seu espaço para se dividir em três: Ciência, Religião e Arte. Quando vemos os assuntos abordados por Bruno nas séries apresentadas na exposição vemos uma porção de todas as faces da Magia, da razão à emoção, do sagrado ao profano, do excepcional ao cotidiano, do inusitado ao banal. Ele consegue através da sua produção, do seu método de pesquisa, das suas experiências, resgatar o sentimento da união do indivíduo com o todo. Permite ao expectador absorver uma experiência alheia e se apoderar dela para atingir a tão sonhada plenitude.

Bruno me faz lembrar da origem da Arte. Ele consegue um movimento difícil que é devassar a superfície de um rio para encontrar sua nascente. Na sua obra ele devassa a superfície e nos revela a nascente da Arte: A Magia.

Nos primórdios da arte, sua função era sem dúvida conferir poder. Um exemplo maior disso é na Arte Rupestre. Aquele homem da pré-história ao desenhar sua caça, acreditava que aquilo aconteceria tal qual o desenho, que aquela produção artística conferia poder para tornar real. Esse poder nos era dado como um instrumento mágico, uma arma da coletividade humana na luta pela sobrevivência. Bruno consegue devolver o caráter mágico que sempre pertenceu à Arte.

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